Amazônia 4.0
Quando tratamos da conservação das culturas nativas, talvez o ponto de maior intersecção de interesses esteja na tecnologia empírica portada por este povos. Pois se há uma marca para as demandas de design que começam a se esboçar no início de nosso século, esta é a do acoplamento das atividades econômicas à capacidade de regeneração dos recursos naturais. Aliados à pressão marcada na economia e nas formas de socialização impostas pela crise sanitária do COVID-19, movimentos como o ESG (Enviromment, Social and Governance), o Stakeholder Capitalism ou mesmo os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) propostos pela ONU, parecem querer assumir os contra efeitos e virar de vez a página de praticamente três séculos de revolução industrial.
É justamente neste contexto que a Amazônia entra em foco, simbolizando o que poderia vir a ser a Meca da inovação nos próximos anos. Se o Vale do Silício logrou desenvolver modelos de negócio e tecnologias que quebraram a noção de fronteiras e chegaram a colocar em cheque a soberania de estados-nação, o desafio da região biologicamente mais fértil mundo é o de conciliar as incontestáveis exigências globais da atualidade. Para além do objetivo de sair bem na foto e dos pretextos morais acoplados no argumento, fortalecer a Amazônia tornou-se uma necessidade de sobrevivência para aqueles que não desejam pegar carona no ônibus espacial de Elon Musk e muito menos viver para ver as distopias cinematográficas de “O Exterminador do Futuro” e “Mad Max”.
Aqui, a grande questão que fica é: o Brasil conseguirá assumir o protagonismo que é seu de direito ou se tonará o maior empecilho na evolução desta tendência irreversível? Se depender deste desgoverno que aí está, a resposta é óbvia. Porém, se soubermos como integrar o conhecimento de nossos cientistas, a iniciativa de nossos empreendedores e a tecnologia de nossos povos originários, a história pode mudar. Quem sabe não esteja justamente neste sincretismo multidisciplinar a nossa última chance de transfigurar o arquétipo de vira-lata?
José M. da Costa é pesquisador, designer e fundador da Storiologia.